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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Um texto que vale ser publicado, compartilhado e lido

Faz dois dias que este texto foi publicado no Impedimento.org  site esse que vale a conferida todos os dias se você for amante de futebol latino, boas histórias e textos bem escritos. Segue abaixo o textículo de Douglas Ceconello sobre Muhammad Ali e como um negro fez uma raça burguesa inteira se curvar diante de sua genialidade.
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25 de fevereiro de 1964

Se hoje os esportistas vítimas de racismo sentem-se autorizados a mostrar toda sua indignação e a buscar seus plenos direitos de cidadão – como recentemente Evra contra o pilantra traidor da negra nação oriental Luiz Suárez e há tempos Grafite diante de Desábato -, apenas para citar dois casos marcantes, é porque certa feita alguém levantou-se contra a bestialidade que reinava numa sociedade que tinha o racismo como uma das mais hediondas formas de discriminação. E não o fez marchando, quebrando ou esperneando – o que também seria válido -, mas assumindo uma postura majestosa, altiva, imbatível e marcada pelo atrevimento. Neste sábado, faz 48 anos que Cassius Marcellus Clay ganhou o título mundial de pesos-pesados em cima de Sonny Liston.

A luta foi épica no ringue, ainda que o Convention Hall de Miami não estivesse lotado. Liston era um touro e um dos maiores campeões de todos os tempos, uma máquina que podia derrubar pesos-pesados com simples JABS, enquanto apenas Clay acreditava em si. Ainda que já fosse campeão Olímpico e tivesse uma boa sequência se vitórias, ele era mais conhecido – e, por isso, detestado – por ser um FALASTRÃO, que provocava seus rivais com versinhos que invariavelmente exatlavam sua beleza quase extraterrena e sua inevitável condição de muito em breve se tornar o maior lutador de todos os tempos. Apresentava-se para todo mundo como “Oi, sou Cassius Clay, o próximo campeão do mundo”. Na pesagem para aquela luta, promoveu um fiasco sem limites, provocando Liston de todas as formas possíveis. A performance era premeditada: Clay queria fazer Liston pensar que ele ou estava totalmente desesperado, ou era louco – e Liston parece ter acreditado em ambas as coisas.

O atual campeão acreditava que derrubaria o oponente de 22 anos no segundo assalto, já que assim o fizera com seus rivais recentes, mais conhecidos que Clay, e manifestou sua confiança exagerada incluindo trago e prostitutas de roldão nos meses de preparação. No entanto, naquela noite Clay usou seu inconfundível BALÉ e a intolerável e atrevida GUARDA BAIXA para desviar só no gingado de praticamente todos os golpes – uma das coisas mais lindas já vistas em qualquer esporte. Bueno, após CEGAR Clay banhando as luvas em ANESTÉSICO e não conseguir derrubá-lo no quinto assalto, em que Clay praticamente nada via e procurava apenas manter a distância, Liston, amplamente vencido, abatido e humilhado, superado em quase todos os assaltos, desistiu da luta.

Mas esta luta não foi um momento fundamental apenas para o esporte. Conforme David Remnick conta em O REI DO MUNDO, biografia de Ali e relato imprescindível daquele momento da sociedade, na época o boxe, ainda extremamente influente, era dividido entre os negros maus (bandidos, como Liston, um ex-presidiário que tinha ligações com a máfia) e os negros bons (subservientes à elite branca, que não significavam perigo para a estrutura social vigente, como Floyd Patterson, campeão que Liston humilhou) – ambas posições obviamente satisfaziam à parcela racista dos norte-americanos.

Na época, famosos ou não, os negros eram impedidos, por exemplo, de entrar em restaurantes e era comum que mesmo os maiores campeões precisassem ficar enclausurados em seus quartos, inclusive Clay. A própria relação da sociedade norte-americana com ele era ambígua: ao mesmo tempo em que era idolatrado por esta independência e pela excelência no boxe, era odiado por sua petulância, afinal aquilo era inédito, desconhecido – onde já se viu preto atrevido assim.

Em 25 de fevereiro de 1964, Cassius Clay, já quase Muhammad Ali, tornou-se o primeiro campeão negro independente, distante dos vícios e do sentimento de inferioridade, desvinculado do antagonismo superficial entre “negro bom” e “negro mau” – não incorporado pela máfia, arrogante, “lindo” (como sempre fazia questão de salientar), forte em todos os sentidos e insuperável. Na época, ele já tinha aderido ao ISLÃ (ainda que a Nação do Islã, entidade que o “adotou”, estivesse bem longe de ser um exemplo de retidão moral, e nesta escolha Clay foi ingênuo) e mais tarde se negaria a servir ao exército para lutar no Vietnan, mesmo que isso tenha acarretado na destituição de sua condição de campeão.  Talvez tenha sido o maior e mais político atleta de todos os tempos.  Fazia questão de expressar sua percepção de que o boxe era uma forma de os brancos se divertirem assistindo um negro batendo em outro. Tratava os derrotados com respeito e não raro demonstrava sua vontade de abreviar a carreira nos ringues.

Com o tempo, Muhammad Ali se tornou mundialmente conhecido, ídolo de pessoas que viam nele um ideal – não de vida, não econômico, mas de dignidade, autoestima e atrevimento – e não haveria quem ousasse a lhe bater a porta na cara a partir dali. Com uma trajetória fulminante e a arrogância mais que necessária para o momento, Muhammad Ali  pegou o atalho do caminho apontado por Martin Luther King e sozinho, não exatamente de forma premeditada, mas tampouco gratuita, tornou-se um dos principais sustentáculos dos direitos civis no mundo. Principalmente porque, mesmo quando perdia, ele era imbatível, lindo e olhava os brancos – e todo mundo – de cima.



Da-lhe, da-lhe.

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